Uma cidade histórica com problemas crônicos. Ouro Preto, na Região Central do estado, se expandiu em volta de morros e vales. Para os turistas, um cenário do século XVIII. Para os moradores, uma apreensão toda vez que a chuva vem mais forte. História e vidas em risco.

Na quinta-feira (13), um casarão do século XIX foi destruído por um deslizamento de terra. Ninguém se feriu.

“O que aconteceu em Ouro Preto só nos mostra a importância e a necessidade de medidas mais efetivas que protejam o nosso patrimônio. Se isso não for feito, vamos assistir outros episódios de deslizamentos e destruição de casarões antigos”, alerta a professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Fernanda Alves de Brito Bueno.

A cidade, de acordo com o levantamento feito pelo Serviço Geológico do Brasil/CPRM – empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia – tem 313 áreas de risco. O estudo é de 2016 e alguns desses pontos são próximos aos casarões e prédios tombados.

O G1 pediu ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), uma relação dos prédios tombados que estão nessas áreas. Além disso, questionou como é feito o monitoramento dessas edificações. Até a publicação desta reportagem, o órgão não tinha se pronunciado.

“A Igreja do Bom de Jesus de Matozinhos das Cabeças está interditada há anos. Com várias trincas e risco de desmoronar. Além disso, ainda tem uma área de encosta atrás do antigo prédio da Santa Casa da cidade. A gente precisa ter urgente um olhar para que ações possam acontecer nessas áreas. Quando a gente fala de patrimônio, estamos falando de referência e identidade”, destaca a professora.

Em 2011, a Escola de Minas da UFOP e a Prefeitura de Ouro Preto chegaram a fazer um levantamento dos monumentos em risco.

Patrimônio x Vidas

Com base na área mapeada em 2016, um outro estudo foi feito pelo Serviço Geológico do Brasil/CPRM no ano passado. A pesquisa identificou que em Ouro Preto são 3.006 moradores e 882 domicílios nas áreas de risco geológico.

Em relação aos principais impactos, a análise revelou que a maioria dos domicílios localizados nas áreas de risco está sujeita “a sofrer perdas ou danos decorrentes da estabilização de encostas a partir da deflagração deslizamentos”. É o caso de 81% das residências que estão nos pontos de atenção.

Na lista ainda aparecem: quedas e tombamentos de blocos rochosos (9,46%) e rastejo (6,21%). Os pesquisadores levaram em consideração também algumas áreas com possibilidade de enxurrada (2,36%).

“Dos mais de 1,6 mil municípios que foram cartografados desde 2011, Ouro Preto é um dos que têm o maior número de áreas de risco. A maioria dos bairros está sob encosta”, explica o geólogo Júlio Lana. Ele coordenou os trabalhos da pesquisa publicada em 2021 e participou do mapeamento das áreas de risco, em 2016.

Nesse levantamento, inclusive, a equipe classificou como de alto risco a região onde houve o deslizamento de terra na quinta-feira (13). Com a queda do barranco, um casarão do século XIX foi destruído. A edificação fazia parte do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto, tombado pelo Iphan.

Foto tirada em 2016 de casarão que foi destruído em Ouro Preto.

Em dezembro de 2011, o Solar Baeta Neves já tinha sido atingido por um deslizamento de terra. Na época, segundo confirmou a administração municipal, o edifício e um barracão ao lado foram interditados pela Defesa Civil da cidade. O prédio pertencia a prefeitura e, na época, funcionava como sede da Secretaria de Agropecuária. Desde 2012 estava desocupado.

“Pela riqueza histórica e por ter muitas áreas de risco, Ouro Preto tem que ser uma cidade bem gerenciada do ponto de vista do crescimento urbana. O que já esta assentado precisa ser monitorado. Não pode agravar o problema. Essa política de crescimento urbano tem que ser cumprida a risca e precisa ser fiscalizada”, afirma Lana.

O G1 também questionou a Prefeitura de Ouro Preto sobre as construções em áreas de risco. Até a publicação desta reportagem, a administração municipal não tinha respondido.

Fonte G1.