Marco Aurélio Carone

A postura do governador Romeu Zema ao culpar o governo Lula pela demora na formalização do acordo de reparação pela tragédia em Mariana revela uma abordagem superficial e oportunista diante de uma questão tão grave. Ao invés de reconhecer a complexidade e a importância de garantir uma reparação justa e abrangente para as comunidades afetadas, Zema parece estar mais interessado em acelerar um processo que, segundo ele, já deveria estar finalizado, mesmo que isso signifique aceitar valores possivelmente insuficientes.

Zema afirmou que tanto ele quanto o governador Renato Casagrande, do Espírito Santo, estão “totalmente favoráveis a fechar (o acordo) pelo valor já ofertado pelas empresas”, enquanto o governo Lula busca um valor maior. Essa postura levanta questionamentos sobre a verdadeira preocupação do governador: ele está realmente comprometido com os interesses das vítimas e das comunidades afetadas, ou está apenas buscando um desfecho rápido, possivelmente às custas de uma compensação adequada?

As mineradoras Vale, BHP e Samarco propuseram R$ 140 bilhões para a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, com R$ 37 bilhões já supostamente investidos em ações de compensação. No entanto, considerando a magnitude do desastre e as consequências de longo prazo para as regiões afetadas, é fundamental que o governo federal atue com cautela e rigor na avaliação dessas propostas. A busca por um valor maior não é uma tentativa de “dificultar” o acordo, como sugere Zema, mas sim uma medida para garantir que a reparação seja justa e efetiva.

A crítica de Zema ao acordo em andamento em Brasília, durante uma vistoria ao terreno onde será implantado o Distrito Industrial de Brumadinho, também demonstra uma falta de compreensão sobre o que realmente está em jogo. Ele comparou o acordo de Brumadinho, decorrente do rompimento da barragem da Mina de Córrego do Feijão em 2019, ao de Mariana, sugerindo que a pressa é mais importante que a qualidade e abrangência do acordo. Sua declaração de que “o que vale mais? Dois hospitais prontos daqui um ano ou 20 hospitais daqui 50 anos?” mostra uma visão imediatista, que ignora a necessidade de um planejamento de longo prazo e uma reparação que realmente atenda às necessidades das populações afetadas.

Ao criticar o governo Lula por supostamente atrasar o processo, Zema negligencia o fato de que as negociações em Brasília estão focadas em garantir que o acordo final seja o melhor possível para as vítimas, as comunidades e o meio ambiente. Tempo, neste contexto, não é apenas justiça – é a diferença entre uma reparação parcial e uma que realmente cubra os danos causados e previna futuras tragédias. O que está em jogo não é apenas a construção rápida de infraestruturas, mas a construção de um futuro seguro e sustentável para as regiões afetadas.

Portanto, a postura de Zema, ao tentar apressar um processo tão delicado, demonstra uma falta de comprometimento com os reais interesses das populações afetadas e uma inclinação perigosa para soluções rápidas e simplistas em detrimento de uma justiça plena e duradoura.