A perspectiva de alta no preço do barril de petróleo —podendo chegar aos US$ 100 ainda neste ano— desperta o interesse de investidores. Especialistas no setor entrevistados pelo CNN Brasil Business, no entanto, advertem que o investidor precisa se familiarizar com o modelo de negócios da companhia e fazer apostas a longo prazo.

Segundo eles, o patamar de US$ 100 deve se concretizar por conta de três motivos: demanda global, redução no impacto da variante Ômicron —aquém do esperado inicialmente— e corte nas ofertas da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

“Não é de hoje que há um descompasso entre a produção e a demanda [do petróleo]”, afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. Ele explica que, após o terceiro trimestre de 2020, quando os países mais desenvolvidos compreenderam o coronavírus, a economia foi retomada e a demanda cresceu.

Com este cenário, a Agência Internacional de Energia (AIE) elevou sua previsão de alta para o consumo mundial de petróleo em 2022 em 200 mil barris por dia (bpd), a 3,3 milhões (bpd).

Felipe Izac, sócio da Nexgen, afirma que a demanda global basicamente já retomou os níveis pré-pandemia na grande maioria das economias, “com exceção dos combustíveis de aviação, que devem retomar ao longo do ano”.

Já André Querne, sócio da Rio Gestão, avalia que os cortes da OPEP nos anos anteriores também são responsáveis pela alta nos preços dos barris. Em 9 de abril de 2020, por exemplo, a organização reduziu a produção da commodity em 10 milhões de barris por dia em maio e junho daquele ano, com o objetivo de ajudar na sustentação dos preços diante da pandemia.

“E mesmo com a retomada do corte da OPEP ao longo do tempo, não é nada instantâneo”, afirma Querne. “Dessa forma, a oferta fica bem menor do que a demanda”.

Outro fator que também pode puxar os preços do petróleo para cima, segundo o analista da Ativa, são as energias renováveis. Ele destaca que “não houve nenhum incremento das companhias para desenvolver mais petróleo. Assim, a demanda cresceu e a oferta ficou parada”.

“A falta de investimentos é porque as empresas estão procurando aumentar seu portfólio, reduzindo a oferta de combustíveis fósseis, e trabalhando com energias renováveis”.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, a energia renovável chega a ser quase 50% da matriz energética brasileira, e quase metade da energia produzida no Brasil vem de fontes renováveis.

A Agência Internacional de Energia apontou que as energias renováveis ​​devem responder por quase 95% do aumento da capacidade de energia no mundo até 2026.

Possíveis gargalos

O sócio e portfólio manager da Nexgen, por outro lado, diz que a Ômicron “pode, sim, frear a escalada de preços do petróleo”. O especialista afirma que a variante chegou à China em janeiro deste ano, e seu potencial impacto, em termos de mobilidade no país, é ainda desconhecido, “tendo em vista a baixa tolerância chinesa a contaminações”.

O país asiático registrou seu primeiro caso apenas em 13 de dezembro de 2021. Porém, em caso de piora, “apesar de improvável”, diz especialista, “medidas mais restritivas podem diminuir o consumo e depreciar o preço do petróleo”.

Izac também ressalta que a atuação mais hawkish do Fed (Federal Reserve) pode trazer um dólar ainda mais forte, fazendo com que o petróleo encareça ainda mais nas demais moedas e, consequentemente, forçando uma queda na demanda.

O banco central dos Estados Unidos manteve as taxas no intervalo de 0% a 0,25%, segundo a atualização de política monetária divulgada após a reunião, em 26 de janeiro. Contudo, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que a primeira alta de juros deve ocorrer na reunião em março, caso as condições sejam apropriadas.

E os especialistas apontam que a commodity ainda tem duas variantes que até o momento não geraram nenhum movimento de alta no petróleo, mas podem afetar o preço ao longo de 2022: tensão geopolítica entre a Rússia e os países ocidentais devido à possibilidade de invasão na Ucrânia e a escalada na produção e exportação da commodity no Irã.

Fonte: CNN Brasil