O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), subiu o tom contra a presidente da Câmara Municipal, Nely Aquino (Podemos). Segundo o chefe do poder Executivo, ele e a vereadora são, agora, “declaradamente inimigos”.

Nesta quinta-feira (3/3), a parlamentar devolveu, à prefeitura, o projeto de lei sobre as diretrizes para baixar, de R$ 4,50 para R$ 4,30, as tarifas dos ônibus comuns que circulam na cidade. Em entrevista coletiva, Kalil afirmou que Nely tem o “delírio” de ser candidata a vice-governadora de Minas Gerais na chapa de Romeu Zema (Novo).

“Belo Horizonte é a única capital do Brasil que conseguiu, por ser uma prefeitura enxuta e robusta, baixar o preço da tarifa de ônibus para 2022. E, por questões políticas, por esse delírio de ser candidata a vice-governadora, [Nely] prejudica o que é de mais sagrado: a população que precisa”, disse. “Acabou a festa dela e de seus asseclas”, falou, instantes depois, em nova menção à parlamentar.

Kalil afirmou que o movimento da Câmara para recusar o projeto sobre a diminuição em R$ 0,20 do valor pago pelos usuários do transporte coletivo tem motivação política.

Ele pediu “desculpas” ao povo belo-horizontino. “Não achei que a agressão a mim ia chegar a vocês”.

As concessionárias dos coletivos desejam subir a passagem para R$ 5,75. A fim de evitar o aumento, a prefeitura propôs injetar R$ 156 milhões neste ano e, assim, arcar com 10% das gratuidades concedidas aos passageiros. O repasse público, além de evitar o aumento à casa dos R$ 5, geraria diminuição em R$ 0,20 no valor atual da tarifa.

‘Voo de galinha’

Kalil apontou ausência de diálogo na postura da Câmara em relação ao projeto das passagens. Para ele, a devolução do texto antes mesmo do tema ser posto em pauta impede que o conjunto de vereadores possa debater o assunto. Ele protestou contra o modus operandi de Nely Aquino.

“O voo do poder é voo de galinha. Quem trata a população assim não vai chegar em lugar algum”, falou.

‘Gabinete secreto’

Kalil disse ver uma questão pessoal no episódio e afirmou que a vereadora teria um “gabinete secreto” na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

“A festa da presidente da Câmara acaba hoje. Ela é inimiga pessoal do prefeito. Por quê? Não sei. Por que o gabinete secreto dela é dentro da Fiemg? Não sei. Tudo que eu estou falando, eu provo, viu gente?! Não sei por que quando os órgãos de imprensa encostam nela grandes empresários vão nos órgãos de imprensa para falar que não pode se encostar nela? Não sei. Tudo que falo, provo”, afirmou.

Kalil relembrou uma das rusgas iniciais com o Legislativo, motivada pela rejeição, em março de 2021, de um projeto da prefeitura que previa a contratação de um empréstimo de cerca de R$ 900 milhões para obras contra enchentes na Bacia do Ribeirão Isidoro, nas regiões Norte e Venda Nova de BH.

O prefeito afirmou ainda que a vereadora Nely Aquino teria interesse em concorrer ao posto de vice-governadora, mas enfrentará rejeição de moradores do próprio reduto eleitoral – região onde as obras contra enchentes estavam previstas.

“A presidente Nely Aquino está simplesmente picada por uma mosca azul do alto dos seus seis mil votos que Venda Nova vai responder depois. Venda Nova vai responder o Vilarinho para ela”, disse.

Perguntado sobre os motivos da relação ruim com a presidente do Legislativo, Kalil voltou a fazer acusações e citou o marido da vereadora.

“Eu imagino qual é o motivo. Se pretende ser vice-governadora, se reunião secreta dela é na Fiemg, se vai todo mundo para o Palácio Tiradentes, com Fiemg, com ela. Aquele deslumbre do poder, dos poderosos, só pode ser isso. Mas eu nunca fiz nada com ela, hoje inclusive é a primeira vez que estou citando o nome dela. […] Vê onde o marido dela está empregado. Vocês são jornalistas e ‘vê’ onde ele trabalha, é mais fácil do que eu falar aqui no microfone”.